Parecem
sérias, mas não são
As "pesquisas" feitas pela internet
não adotam método científico algum e se prestam
a grandes
picaretagens
José
Edward
AP
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Maradona recebe prêmio de melhor do século, segundo
a internet: até "Gore" e "Bush" votaram
nele |
Na
semana passada, a Fifa envolveu-se num calção-justo. A entidade
encomendou a um júri de especialistas a escolha do jogador do
século. E, na página que mantém na internet, ofereceu aos
internautas o direito de declarar seu voto. No júri oficial, o
eleito foi Pelé. Entre os internautas, o escolhido foi Maradona, que
ganhou de goleada. O craque argentino obteve 53% dos votos virtuais,
contra apenas 18% dados a Pelé. Ao premiar os vencedores, a Fifa
precisou fazer uma adaptação. A idéia original era entregar um único
troféu ao vencedor. Decidiu-se dividir o título em duas categorias,
a oficial, que premiou Pelé, e a da internet, entregue a Maradona.
Uma
pesquisa tem o propósito de descobrir o que pensa um determinado
grupo social a respeito deste ou daquele assunto. E para isso é
necessário que se entreviste uma amostragem representativa da fatia
da sociedade que está sendo analisada. Para saber em quem os
brasileiros pretendem votar para presidente, o levantamento precisa
ser feito entre os eleitores de todo o Brasil. Não vale entrevistar
os usuários de cartão de crédito. E o trabalho só terá valor
estatístico se, além desse cuidado, forem adotados outros métodos
científicos. As entrevistas precisam ser feitas segundo critérios
que levem em conta as especificidades do país. Nas pesquisas feitas
via internet, os métodos científicos não são respeitados. Os sites
lançam uma pergunta no ar e responde quem quer. Para votar no
jogador do século no site da Fifa, bastava inventar um nome qualquer
e escolher o candidato. Quem quis, votou várias vezes, até mesmo
usando nomes como Albert Gore e George Bush.
Portanto, não se impressione com os levantamentos virtuais,
nem quando parecem ser gigantescos. Uma empresa de informática acaba
de concluir uma enquete monstro que juntou respostas de 1,2 milhão
de internautas de quase todas as nações do mundo, incluindo
brasileiros (veja quadro abaixo). Uma leitura rápida do
material pode sugerir que se trata de um trabalho cuidadoso, mas não
passa de um amontoado de curiosidades que nada dizem sobre os
países. O melhor exemplo da inutilidade científica das pesquisas
on-line talvez seja a votação encomendada há três anos pela revista
Time. A publicação decidiu eleger as personalidades do século
pelo voto virtual. Lá pelo meio da pesquisa, descobriu-se que
Mustafa Kemal Ataturk, que comandou o processo de modernização da
Turquia nos anos 20, ganhava nas categorias "estadista", "herói" e
"cientista", à frente de Winston Churchill, Nelson Mandela e Albert
Einstein. A Time achou melhor deletar sua
enquete.
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